Infância na casa de vó e tia, no interior do Espírito Santo, pra mim tem alguns sabores e memórias gustativas.
A primeira que me vem à cabeça é o pé de manga espada no quintal da vovó Lilita. Com a ajuda de uma extensa escada de madeira colhíamos as mangas em um trabalho de equipe memorável. Ao alcançarmos o solo seguro a casca era imediatamente retirada com os dentes e, sentados ao chão, o caldo escorria até os cotovelos. Os lábios ganhavam contornos amarelos e sorrisos de satisfação.
Outro protagonista desta lista é a couve-manteiga. Que hoje sei que na verdade era qualquer folhagem verde e refogada, caso contrário minha prima, chatíssima à mesa naquela época, não comeria. E foi assim que eu criei o apreço pela bertalha, acelga, chicória e tantas outras verduras.
A guerra diária para decidir quem iria recolher o pão, que era depositado pelo padeiro na varanda da casa pontualmente às 5h. Os pães franceses, que eram nosso café da manhã, vinha embrulhado em papel de pão e delicadamente amarrado com barbante.
Tinha ainda o macarrão com feijão que era servido na creche (ESCOLA?) que minha tia era professora - a gente ia pra lá com ela em alguns dias pra "ajuda-la" a cuidar das crianças.
Até hoje sinto aquele cheiro em alguns lugares, mas nunca mais senti aquele sabor.
Tantas memórias para abrir o assunto desse post, o sabor que me resgatou o sentimento de nostalgia outro dia: o doce de leite ninho da tia Edna.
Tia Edna, irmã mais sábia da minha mãe, além de tia incrível, professora, cozinheira de mão cheia, anfitriã memorável era também a doceira mais cobiçada de Mimoso do Sul.
As festas de criança tinham sempre o seu toque - sua capacidade de transformar docinhos em histórias fazia qualquer criança (e adulto) desejar uma mesa daquelas.
Reparem que falo das décadas de 80/90, no interior do país, em uma cidade que na época tinha 25 mil habitantes.
O doce de leito ninho tinha uma vantagem sobre os outros, na montagem de mesas temáticas: sua textura firme e de fácil manuseio era perfeita para moldar personagens.
Daquela mistura surgiam frutas, pintinhos, bonecos de neve, papai Noel e muitos outros.
Quando surgiu o "doce de leite ninho gourmet" eu dei uma chance, mas nada se compara aquelas frutinhas da tia Edna. Nada se compara.
Receita:
1 lata de leite ninho
1 lata de açúcar refinado
1 vidro de leite de coco
Misturar tudo em um recipiente - colocar a mão na massa mesmo gente e mexer até a massa ficar homogênea, lisa e firme.
Depois é só moldar da forma que você quiser e se permitir sonhar.
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